Porquê que Setembro é o mês 9 e não o mês 7?
“7-tembro”?...
Ser o mês 7 faria muito mais sentido, não?...
E Outubro?...
Octubre em espanhol...
Octobre em francês...
October em inglês...
Faz clara alusão ao octo do latim que significa 8.
Mas porquê ser o mês dez?...
Igual com Novembro (“9-embro”) e Dezembro (“10-zembro”)…
Os restantes meses de Janeiro até Agosto nada têm a ver com numeração…
Então tem a ver com o quê?
A resposta é…
O PRIMEIRO CALENDÁRIO SÓ TINHA 10 MESES
(Calendário de Rómulo)
1.º mês, Martius (31 dias).
Era a época em que se começavam a preparar as campanhas militares logo após o rigor do Inverno e por isso foi dedicado a Marte, o deus da guerra que dava forças e concedia vitórias.
2.º mês, Aprilis (30 dias).
Há dúvidas sobre a origem mas associa-se à palavra em latim aperire muito provavelmente referindo-se ao abrir das flores na Primavera e consequentemente também uma homenagem a Afrodite, deusa grega da beleza e do amor.
3.º mês, Maius (31 dias).
Em homenagem a Maia Maiestas, mãe do deus Mercúrio. Representava a fertilidade e era-lhe atribuída a responsabilidade pelo bom crescimento das plantações que haviam brotado na Primavera.
4.º mês, Iunius (30 dias).
Era o mês dos casamentos e em que as mulheres se preparavam para a maternidade. Por isso foi dedicado a Juno, deusa das mulheres.
5.º mês*, Quintilis (31 dias).
6.º mês, Sextilis (30 dias).
7.º mês, September (30 dias).
8.º mês, October (31 dias).
9.º mês, November (30 dias).
10.º mês, December (30 dias).
Ano com 304 dias com o objectivo de completar exactos 38 ciclos “nundinais”/nundinae que viria a dar origem ao que hoje conhecemos como “semanas” e que naqueles tempos significava os dias de mercado e de descanso para os aristocratas (os famosos “patrícios”/patricius).
Este esquema é atribuído supostamente a Rómulo.
Um dos dos tais gémeos fundadores de Roma e famosos pela lenda de que foram amamentados por uma loba.
É considerado o 1.º rei de Roma.
Mesmo antes de Rómulo, os povos da península itálica já tinham o conceito de “calendas”/calendae.
Já era sinónimo de início do mês tendo em base os ciclos da Lua nova do ano lunar.
Todas as datas festivas/religiosas eram anunciadas nas calendas pelos sacerdotes e responsabilizava a população ao cumprimento dos seus pagamentos.
Agora já é possível perceber de onde surgiu a palavra “calendário”, sendo basicamente o conjunto anual das calendas.
(Portanto para os romanos o calendário de Rómulo tornou-se numa agenda organizadora para contabilizar os dias até ao próximo pagamento).
Quando nos dias de hoje se diz:
“Isso ficará para as próximas calendas”...
Significa normalmente que um pagamento de algo pendente ou que a compra de algo desejado só vai ser possível quando forem feitos os acertos monetários na transição do ciclo mensal.
Aliás, há aquela expressão que diz:
“Isso ficará para as calendas gregas”/Ad kalendas græcas.
Significa algo que nunca irá acontecer porque os Gregos não tinham essa lei no seu esquema de meses lunissolares.
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Ao 14º dia de Março (XV Kalendas Martias),
Era realizada a Lupercália.
Festas romanas com imensas homenagens e rituais que celebrava a fundação de Roma mas principalmente o fim do Inverno.
Curiosidade:
Mais à frente, já vamos ver que corresponde hoje ao dia 14 de Fevereiro conhecido como dia dos namorados.
Como eram festas pagãs, a Igreja mais tarde decidiu proibi-las e cristianizou a data em homenagem a S. Valentim.
Mas com o ano civil de apenas 10 meses em que o Inverno nem era contabilizado por não ter actividades, cultos ou festividades…
Era sempre muito difícil conseguir marcar a calenda de Março e consequentemente as Festas Lupercais...
Então supostamente Numa Pompílio (o 2.º rei de Roma e sucessor de Rómulo),
Simplesmente decidiu adicionar mais 2 meses.
Janeiro antes de Março e Fevereiro após Dezembro.
1.º PRIMEIRO CALENDÁRIO COM 12 MESES
(Calendário de Numa Pompílio)
1.º mês, Ianuarius (29 dias).
Passou a ser o mês da transição do ano e por isso ficou associado a Jano (Ianus): o deus protector das entradas e saídas, dos inícios e dos fins.
As imagens que representam Jano são de uma cabeça com 2 rostos em sentidos opostos como se esteja sempre a observar o passado e ao mesmo tempo o futuro.
2.º mês, Martius (31 dias).
3.º mês, Aprilis (29 dias).
4.º mês, Maius (31 dias).
5.º mês, Iunius (29 dias).
6.º mês, Quintilis (31 dias).
7.º mês, Sextilis (29 dias).
8.º mês, September (29 dias).
9.º mês, October (31 dias).
10.º mês, November (29 dias).
11.º mês, December (29 dias).
12.º mês, Februarius (23 dias).
Ao passar a ser o último mês do ano, ficou associado a introspecção.
O februatus era o ritual de lavagem da alma (redemptio) com pedidos a “Fébruo” / Februus, o deus da purificação.
Eram feitas oferendas e sacrifícios e passou a ser relevante agora por se tratar do período pré-Primavera em que se apelava por boas colheitas.
Mas que falta de estética vem a ser esta de meses com 29 dias e outros com 31?
Não podia ficar tudo arredondado para 30?
Principalmente porque os meses com números pares eram considerados de azar.
(Nos dias de hoje é estranho mas atenção que as crenças naquela época valiam mais do que a realidade).
Curiosidade:
Ainda chegou a haver o Mercedonius como mês intercalar (mensis intercalaris) para os anos em que havia necessidade de arrumar as trapalhadas.
Mas resumindo foi um cálculo de aproximação ao sistema lunar e às posições do sol numa tentativa de correspondência aos dois como já era usado na Grécia e na Babilónia.
Como as alterações da Lua não completam trinta dias, foi feita uma intercalação para que de 20 em 20 anos as posições lunares coincidissem com as solares.
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Mas na verdade nada batia certo e estava sempre tudo muito confuso.
(Por vezes, na época republicana, até eram feitos ajustes só para prolongar cargos políticos).
Entretanto o famoso Júlio César na sua também famosa campanha militar pelo Egipto constatou grande precisão no calendário solar dos egípcios e ordenou aos astrónomos de Alexandria que trabalhassem no calendário romano.
CALENDÁRIO JULIANO
(Calendário de Júlio César)
1.º mês, Ianuarius (31 dias).
2.º mês, Februarius (29/30 dias).
Fevereiro passou de 12.º para o 2.º mês por causa da velha questão de acertar Março com o equinócio de Primavera mas continuou a ser o mês dos acertos com a introdução dos anos bissextos.
3.º mês, Martius (31 dias).
4.º mês, Aprilis (30 dias).
5.º mês, Maius (31 dias).
6.º mês, Iunius (30 dias).
7.º mês, Quintilis (31 dias).
8.º mês, Sextilis (30 dias).
9.º mês, September (31 dias).
10.º mês, October (30 dias).
11.º mês, November (31 dias).
12.º mês, December (30 dias).
Finalmente um ano já com 365 dias e com Fevereiro logo a seguir a Janeiro como conhecemos nos dias de hoje.
Mas…
Que história vem a ser essa de anos bissextos?
Para quê tanta complicação?
Porque na realidade o ano tem 365 dias mais cerca de 6 horas, embora aqui neste cálculo Juliano ainda ainda dava umas 8 horas a mais.
Nesse sentido, a cada 3 anos era adicionado um dia extra ficando esse ano com 366 dias.
Curiosidade:
A origem da palavra bissexto é difícil de explicar num texto curto.
Mas resumidamente recordam de como alguns dos nossos avós diziam as horas em forma de contagem como por exemplo: “são dez prá uma”...
O mesmo acontecia com os romanos,
Eles não diziam a data específica, apenas contavam os dias que faltavam até à próxima calenda.
Como inicialmente Fevereiro só tinha 23 dias,
Os romanos agora para identificar o ano em que Fevereiro tinha um dia a mais, contavam 2 vezes o dia 23 (o dia 23 ficava com 48 horas)...
Depois era só adicionar mais 6 dias até chegar a Março: bis sextum, kalendas Martias.
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Mas o calendário estava ainda meio em estudo quando entretanto Júlio César é assassinado por um grupo de senadores que queria repor o sistema republicano.
(Este episódio remete-nos àquela famosa frase: "até tu, Brutus?").
Mais tarde, César Augusto, o seu sobrinho-neto, veio a tornar-se seu sucessor e conseguiu vingar a sua morte dando continuidade ao legado finalizando com sucesso as campanhas militares que transformaram Roma num Império.
Concluiu também em definitivo o calendário Juliano.
Como reconhecimento ao trabalho desenvolvido por Júlio César relativamente ao calendário, renomeou o mês de Quintilis em sua homenagem porque era o mês em que o seu tio-avô era aniversariante.
Também o mês de Sextilis foi renomeado para Augustus (Agosto) como referência precisamente a César Augusto.
Popularmente diz-se que o próprio não queria ser menos que Júlio César e até aumentou Agosto para 31 dias para ficar igual a Julho.
Mas os estudiosos rejeitam essa visão porque Júlio César para César Augusto foi superior. Para além de ser um pai-adotivo, era um ídolo, mentor e líder intelectual.
Terá sido o próprio senado (agora limpo de traidores republicanos) que ao publicar a legislação com as novas regras do calendário, introduziu esta homenagem porque Sextilis havia sido o mês das grandes conquistas de César Augusto.
CALENDÁRIO JULIANO II
(Calendário de César Augusto)
1.º mês, Ianuarius (31 dias).
2.º mês, Februarius (passou a 28/29 dias).
Foi finalmente concluído o cálculo para os anos bissextos e passou para 4 em 4 anos como nos dias de hoje.
3.º mês, Martius (31 dias).
4.º mês, Aprilis (30 dias).
5.º mês, Maius (31 dias).
6.º mês, Iunius (30 dias).
7.º mês, Iulius (31 dias).
Quintilis passou a chamar-se Julho em homenagem a Iulius Caesar.
8.º mês, Augustus (31 dias).
Sextilis passou a chamar-se Agosto em homenagem a Caesar Octavianus Augustus.
9.º mês, September (30 dias).
10.º mês, October (31 dias).
11.º mês, November (30 dias).
12.º mês, December (31 dias).
Aqui já parece estar realmente tudo igual ao calendário dos dias de hoje, certo?
Errado!
Séculos mais tarde foi constatado que continuavam a haver imprecisões.
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Foi então ordenado pelo Papa Gregório XIII uma revisão.
CALENDÁRIO GREGORIANO
(Calendário do Papa Gregório XIII)
Este sim,
É o calendário que usamos nos dias de hoje em todas as culturas ocidentais.
Já não houve alterações abruptas na esperança de dar certo.
O calendário gregoriano só foi possível graças ao renascimento e é um estudo de precisão com novos conceitos matemáticos e conhecimentos em astronomia que os romanos à época não tinham especialmente tendo agora em conta também os movimentos de translação da terra.
O principal objectivo foi mais uma vez a questão do equinócio de Primavera que com o catolicismo tinha relevância adicional para determinar o dia de Páscoa e o restante calendário litúrgico.
A necessidade desta reforma foi a constatação de que com o esquema Juliano já havia uma diferença de 10 dias em relação ao equinócio que é quando o dia tem exactamente as mesmas horas da noite:
- 12 horas no período do dia;
- 12 horas no período da noite;
Para isso, foram simplesmente retirados 10 dias a Outubro do ano de 1582.
• Foi então finalmente determinado o dia de Páscoa para o 1.º Domingo após a Lua cheia seguinte ao equinócio da Primavera que é mais ou menos entre 20/21 de Março.
• Foi contabilizado que o ano tinha precisamente 365 dias, cinco horas, 48 minutos e 48 segundos.
• Foi determinado o Anno Domini (A.D.). Em português o ano do Senhor que dividiu o tempo em duas eras:
- Antes de Cristo (a.C.),
- Depois de Cristo (d.C.).
• Foi dividido cada mês em períodos de 7 dias.
• Foram divididas as estações do ano em 4 trimestres tendo em conta para além dos equinócios, também agora os solstícios dos 2 hemisférios que corresponde:
- ao dia mais curto/longo do ano,
- e à noite mais curta/longa do ano.