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domingo, 21 de fevereiro de 2021

A origem e história do calendário.

Porquê que Setembro é o mês 9 e não o mês 7?

“7-tembro”?...

Ser o mês 7 faria muito mais sentido, não?...

E Outubro?... 

Octubre em espanhol...

Octobre em francês...

October em inglês...
Faz clara alusão ao octo do latim que significa 8.

Mas porquê ser o mês dez?...

Igual com Novembro (“9-embro”) e Dezembro (“10-zembro”)…





Os restantes meses de Janeiro até Agosto nada têm a ver com numeração…

Então tem a ver com o quê?






A resposta é…





O PRIMEIRO CALENDÁRIO SÓ TINHA 10 MESES

(Calendário de Rómulo)





  • 1.º mês, Martius (31 dias).
    Era a época em que se começavam a preparar as campanhas militares logo após o rigor do Inverno e por isso foi dedicado a Marte, o deus da guerra que dava forças e concedia vitórias.


  • 2.º mês, Aprilis (30 dias).

Há dúvidas sobre a origem mas associa-se à palavra em latim aperire muito provavelmente referindo-se ao abrir das flores na Primavera e consequentemente também uma homenagem a Afrodite, deusa grega da beleza e do amor.



  • 3.º mês, Maius (31 dias).

Em homenagem a Maia Maiestas, mãe do deus Mercúrio. Representava a fertilidade e era-lhe atribuída a responsabilidade pelo bom crescimento das plantações que haviam brotado na Primavera.



  • 4.º mês, Iunius (30 dias).

Era o mês dos casamentos e em que as mulheres se preparavam para a maternidade. Por isso foi dedicado a Juno, deusa das mulheres.



  • 5.º mês*, Quintilis (31 dias).

*A partir daqui já não havia homenagens para ninguém, era tudo numerado.

  • 6.º mês, Sextilis (30 dias).


 

  • 7.º mês, September (30 dias).



  • 8.º mês, October (31 dias).



  • 9.º mês, November (30 dias).



  • 10.º mês, December (30 dias).




Ano com 304 dias com o objectivo de completar exactos 38 ciclos “nundinais”/nundinae que viria a dar origem ao que hoje conhecemos como “semanas” e que naqueles tempos significava os dias de mercado e de descanso para os aristocratas (os famosos “patrícios”/patricius).

Este esquema é atribuído supostamente a Rómulo. 

Um dos dos tais gémeos fundadores de Roma e famosos pela lenda de que foram amamentados por uma loba. 

É considerado o 1.º rei de Roma.


Curiosidade:

Mesmo antes de Rómulo, os povos da península itálica já tinham o conceito de “calendas”/calendae.

Já era sinónimo de início do mês tendo em base os ciclos da Lua nova do ano lunar.

Todas as datas festivas/religiosas eram anunciadas nas calendas pelos sacerdotes e responsabilizava a população ao cumprimento dos seus pagamentos.


Agora já é possível perceber de onde surgiu a palavra “calendário”, sendo basicamente o conjunto anual das calendas.

(Portanto para os romanos o calendário de Rómulo tornou-se numa agenda organizadora para contabilizar os dias até ao próximo pagamento).


Quando nos dias de hoje se diz: 

“Isso ficará para as próximas calendas”...

Significa normalmente que um pagamento de algo pendente ou que a compra de algo desejado só vai ser possível quando forem feitos os acertos monetários na transição do ciclo mensal.


Aliás, há aquela expressão que diz:

“Isso ficará para as calendas gregas”/Ad kalendas græcas.

Significa algo que nunca irá acontecer porque os Gregos não tinham essa lei no seu esquema de meses lunissolares.




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Ao 14º dia de Março (XV Kalendas Martias),

Era realizada a Lupercália.
Festas romanas com imensas homenagens e rituais que celebrava a fundação de Roma mas principalmente o fim do Inverno.

Curiosidade:

Mais à frente, já vamos ver que corresponde hoje ao dia 14 de Fevereiro conhecido como dia dos namorados.

Como eram festas pagãs, a Igreja mais tarde decidiu proibi-las e cristianizou a data em homenagem a S. Valentim.


Mas com o ano civil de apenas 10 meses em que o Inverno nem era contabilizado por não ter actividades, cultos ou festividades… 

Era sempre muito difícil conseguir marcar a calenda de Março e consequentemente as Festas Lupercais...


Então supostamente Numa Pompílio (o 2.º rei de Roma e sucessor de Rómulo), 

Simplesmente decidiu adicionar mais 2 meses.

Janeiro antes de Março e Fevereiro após Dezembro.





1.º PRIMEIRO CALENDÁRIO COM 12 MESES

(Calendário de Numa Pompílio)





  • 1.º mês, Ianuarius (29 dias).

Passou a ser o mês da transição do ano e por isso ficou associado a Jano (Ianus): o deus protector das entradas e saídas, dos inícios e dos fins.

As imagens que representam Jano são de uma cabeça com 2 rostos em sentidos opostos como se esteja sempre a observar o passado e ao mesmo tempo o futuro.



  • 2.º mês, Martius (31 dias).

  • 3.º mês, Aprilis (29 dias).


  • 4.º mês, Maius (31 dias).


  • 5.º mês, Iunius (29 dias).


  • 6.º mês, Quintilis (31 dias).


  • 7.º mês, Sextilis (29 dias).

 

  • 8.º mês, September (29 dias).


  • 9.º mês, October (31 dias).


  • 10.º mês, November (29 dias).


  • 11.º mês, December (29 dias).


  • 12.º mês, Februarius (23 dias).

Ao passar a ser o último mês do ano, ficou associado a introspecção.

O februatus era o ritual de lavagem da alma (redemptio) com pedidos a “Fébruo” / Februus, o deus da purificação.

Eram feitas oferendas e sacrifícios e passou a ser relevante agora por se tratar do período pré-Primavera em que se apelava por boas colheitas.




Mas que falta de estética vem a ser esta de meses com 29 dias e outros com 31?

Não podia ficar tudo arredondado para 30?


Principalmente porque os meses com números pares eram considerados de azar.

(Nos dias de hoje é estranho mas atenção que as crenças naquela época valiam mais do que a realidade).


Curiosidade:

Ainda chegou a haver o Mercedonius como mês intercalar (mensis intercalaris) para os anos em que havia necessidade de arrumar as trapalhadas.

Mas resumindo foi um cálculo de aproximação ao sistema lunar e às posições do sol numa tentativa de correspondência aos dois como já era usado na Grécia e na Babilónia.

Como as alterações da Lua não completam trinta dias, foi feita uma intercalação para que de 20 em 20 anos as posições lunares coincidissem com as solares.




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Mas na verdade nada batia certo e estava sempre tudo muito confuso.

(Por vezes, na época republicana, até eram feitos ajustes só para prolongar cargos políticos).

Entretanto o famoso Júlio César na sua também famosa campanha militar pelo Egipto constatou grande precisão no calendário solar dos egípcios e ordenou aos astrónomos de Alexandria que trabalhassem no calendário romano.




CALENDÁRIO JULIANO

(Calendário de Júlio César)





  • 1.º mês, Ianuarius (31 dias).


  • 2.º mês, Februarius (29/30 dias).

Fevereiro passou de 12.º para o 2.º mês por causa da velha questão de acertar Março com o equinócio de Primavera mas continuou a ser o mês dos acertos com a introdução dos anos bissextos.


  • 3.º mês, Martius (31 dias).


  • 4.º mês, Aprilis (30 dias).


  • 5.º mês, Maius (31 dias).


  • 6.º mês, Iunius (30 dias).


  • 7.º mês, Quintilis (31 dias).


  • 8.º mês, Sextilis (30 dias).

 

  • 9.º mês, September (31 dias).


  • 10.º mês, October (30 dias).


  • 11.º mês, November (31 dias).


  • 12.º mês, December (30 dias).



Finalmente um ano já com 365 dias e com Fevereiro logo a seguir a Janeiro como conhecemos nos dias de hoje.

Mas…

Que história vem a ser essa de anos bissextos? 

Para quê tanta complicação?

Porque na realidade o ano tem 365 dias mais cerca de 6 horas, embora aqui neste cálculo Juliano ainda ainda dava umas 8 horas a mais.

Nesse sentido, a cada 3 anos era adicionado um dia extra ficando esse ano com 366 dias.

Curiosidade:

A origem da palavra bissexto é difícil de explicar num texto curto.

Mas resumidamente recordam de como alguns dos nossos avós diziam as horas em forma de contagem como por exemplo: “são dez prá uma”...

O mesmo acontecia com os romanos, 

Eles não diziam a data específica, apenas contavam os dias que faltavam até à próxima calenda.


Como inicialmente Fevereiro só tinha 23 dias,

Os romanos agora para identificar o ano em que Fevereiro tinha um dia a mais, contavam 2 vezes o dia 23 (o dia 23 ficava com 48 horas)...

Depois era só adicionar mais 6 dias até chegar a Março: bis sextum, kalendas Martias.




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Mas o calendário estava ainda meio em estudo quando entretanto Júlio César é assassinado por um grupo de senadores que queria repor o sistema republicano.

(Este episódio remete-nos àquela famosa frase: "até tu, Brutus?").

Mais tarde, César Augusto, o seu sobrinho-neto, veio a tornar-se seu sucessor e conseguiu vingar a sua morte dando continuidade ao legado finalizando com sucesso as campanhas militares que transformaram Roma num Império.


Concluiu também em definitivo o calendário Juliano.
Como reconhecimento ao trabalho desenvolvido por Júlio César relativamente ao calendário, renomeou o mês de Quintilis em sua homenagem porque era o mês em que o seu tio-avô era aniversariante.


Também o mês de Sextilis foi renomeado para Augustus (Agosto) como referência precisamente a César Augusto.

Popularmente diz-se que o próprio não queria ser menos que Júlio César e até aumentou Agosto para 31 dias para ficar igual a Julho.

Mas os estudiosos rejeitam essa visão porque Júlio César para César Augusto foi superior. Para além de ser um pai-adotivo, era um ídolo, mentor e líder intelectual.

Terá sido o próprio senado (agora limpo de traidores republicanos) que ao publicar a legislação com as novas regras do calendário, introduziu esta homenagem porque Sextilis havia sido o mês das grandes conquistas de César Augusto.





CALENDÁRIO JULIANO II

(Calendário de César Augusto)





  • 1.º mês, Ianuarius (31 dias).


  • 2.º mês, Februarius (passou a 28/29 dias).

Foi finalmente concluído o cálculo para os anos bissextos e passou para 4 em 4 anos como nos dias de hoje.


  • 3.º mês, Martius (31 dias).


  • 4.º mês, Aprilis (30 dias).


  • 5.º mês, Maius (31 dias).


  • 6.º mês, Iunius (30 dias).


  • 7.º mês, Iulius (31 dias).

Quintilis passou a chamar-se Julho em homenagem a Iulius Caesar.


  • 8.º mês, Augustus (31 dias).

Sextilis passou a chamar-se Agosto em homenagem a Caesar Octavianus Augustus.


  • 9.º mês, September (30 dias).


  • 10.º mês, October (31 dias).


  • 11.º mês, November (30 dias).


  • 12.º mês, December (31 dias).




Aqui já parece estar realmente tudo igual ao calendário dos dias de hoje, certo?


Errado! 

Séculos mais tarde foi constatado que continuavam a haver imprecisões.



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Foi então ordenado pelo Papa Gregório XIII uma revisão.





CALENDÁRIO GREGORIANO

(Calendário do Papa Gregório XIII)





Este sim,
É o calendário que usamos nos dias de hoje em todas as culturas ocidentais.


Já não houve alterações abruptas na esperança de dar certo.

O calendário gregoriano só foi possível graças ao renascimento e é um estudo de precisão com novos conceitos matemáticos e conhecimentos em astronomia que os romanos à época não tinham especialmente tendo agora em conta também os movimentos de translação da terra.


O principal objectivo foi mais uma vez a questão do equinócio de Primavera que com o catolicismo tinha relevância adicional para determinar o dia de Páscoa e o restante calendário litúrgico.


A necessidade desta reforma foi a constatação de que com o esquema Juliano já havia uma diferença de 10 dias em relação ao equinócio que é quando o dia tem exactamente as mesmas horas da noite: 

- 12 horas no período do dia; 

- 12 horas no período da noite;
Para isso, foram simplesmente retirados 10 dias a Outubro do ano de 1582.

Foi então finalmente determinado o dia de Páscoa para o 1.º Domingo após a Lua cheia seguinte ao equinócio da Primavera que é mais ou menos entre 20/21 de Março.


Foi contabilizado que o ano tinha precisamente 365 dias, cinco horas, 48 minutos e 48 segundos.

Foi determinado o Anno Domini (A.D.). Em português o ano do Senhor que dividiu o tempo em duas eras:

- Antes de Cristo (a.C.),

- Depois de Cristo (d.C.).


Foi dividido cada mês em períodos de 7 dias.


Foram divididas as estações do ano em 4 trimestres tendo em conta para além dos equinócios, também agora os solstícios dos 2 hemisférios que corresponde:

- ao dia mais curto/longo do ano,

- e à noite mais curta/longa do ano.